A simbiose perfeita com a aldeia de Vale de Gaios
O relevo planáltico, característico da Beira Alta, recortado por outeiros e vales enquadrados entre as serras da Estrela, Lousã, Buçaco e Caramulo, é um território integrante, do ponto de vista geológico, no Maciço Hespérico – Zona Centro Ibérica, composto por rochas magmáticas (granitoides) com orientação predominante oeste-este. O intenso magmatismo originou, sobretudo, granitoides das séries alcalina e calco-alcalina, estando as rochas básicas muito subordinadas. São bem visíveis, ao longo do curso do Rio de Cavalos os granitos calco-alcalinos biotíticos com megacristais e granulado grosseiro, usualmente designados por “granito dente de cavalo”, e que podem estar na origem do topónimo desta linha de água. E, uma das melhores formas de os observar é justamente entre a aldeia de Vale de Gaios e a Ponte de Sumes. As origens da aldeia remontam ao período da Idade Média, mas as primeiras referências que lhe são feitas são já a partir dos séculos XVI e XVII, integradas nos Registos Paroquiais da Freguesia de Midões, onde se vai destacando um ofício que veio a ter importância vital no crescimento económico de toda a região – o desenvolvimento da moagem, na medida em que se assinalavam então, 26 moleiros que prestavam serviços ou tomavam de arrendamentos os moinhos de poderosos senhores, como Narciso de Sousa Machado ou de Roque Ribeiro de Abreu. Assim se compreende a importância e o encanto ímpar que tem Vale de Gaios e o Rio de Cavalos, que nascendo junto a S. Paio de Gramaços (conc. Oliveira do Hospital), entra no território tabuense em Vila Nova de Oliveirinha, passando pelas povoações de Ribeira, S. Geraldo, Vale de Gaios e Sevilha, já na freguesia de Tábua, aqui desaguando no Mondego. Também António Duarte d’Almeida Veiga destacou na sua monografia Midões e o seu velho município curiosidades naturais que permanecem atuais e merecem especial realce: o desaparecimento do Rio de Cavalos, a jusante da ponte romana de Sumes, numa cratera existente por baixo de várias pedras graníticas, reaparecendo a uma distância de trezentos metros, já em direção a Vale de Gaios. E acrescenta sobre o assunto: «Dizem os que tem descido às profundezas d’aquele rio subterrâneo pelos vários buracos que lá conduzem, quando, no verão, a corrente fica reduzida a pequeno ribeiro, que lá em baixo se encontram num verdadeiro labyrinto de salas e corredores».[1]
[1] VEIGA, António Duarte d’Almeida – Midões e o seu velho município, Cernadas & C.ª – Livraria Editora, Lisboa, 1912, pp. 11-12